Cachoeira do Campo

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Cachoeira do Campo
  Distrito do Brasil  
Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré em Cachoeira do Campo
Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré em Cachoeira do Campo
Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré em Cachoeira do Campo
Localização
Mapa
Mapa de Cachoeira do Campo
Coordenadas 20° 20' 47" S 43° 40' 12" O
Estado Minas Gerais
Município Ouro Preto

Cachoeira do Campo é distrito de Ouro Preto, Minas Gerais.[1] Localiza-se na latitude 20º 20' 46" Sul e longitude 43º 40' 12" Oeste, a uma altitude média de 1.039 metros. Fica situado na rodovia dos Inconfidentes (BR-356, km 72), entre a sede do município (18 km) e Belo Horizonte (72 km). Possui o clima característico Tropical de Altitude, com temperaturas amenas, mantendo uma média em torno dos 19°C. O distrito foi oficialmente criado em 08 de abril de 1836 e possui área de 51,91 km2. Em Cachoeira do Campo, concentra-se uma população de pouco mais de 10% do total do município de Ouro Preto, algo em torno de 8.923 mil pessoas (IBGE - Censo 2010), conforme consta na lista de distritos de Ouro Preto.

História[editar | editar código-fonte]

1680 - Primeiro morador[editar | editar código-fonte]

O distrito surgiu entre os anos de 1674 a 1675, quando a bandeira de Fernão Dias Paes - o "caçador de esmeraldas" - na busca de riquezas nas montanhas de Minas, provavelmente descobriu a cascata de águas límpidas, próximo ao atual Centro Dom Bosco, que daria origem ao histórico nome do povoado da “Cachoeira”, passando mais tarde a ser chamado de Cachoeira do Campo. No ano de 1680 o aventureiro Manuel de Mello teria se estabelecido em Cachoeira, tornando-se o primeiro morador.

O povoado teve em 1700 seu desenvolvimento inicial, quando uma crise de fome atingiu Vila Rica fazendo com que um grande número de pessoas, que moravam naquela região mineradora, procurassem o local para produzir alimentos.

1708 - Guerra dos Emboabas[editar | editar código-fonte]

Na localidade, pela projeção da época, desencadeou um dos episódios mais sangrentos e decisivos do conflito envolvendo os direitos de exploração de ouro na futura Capitania de Minas Gerais, conhecido como Guerra dos Emboabas, entre 1708 e 1709, no local conhecido atualmente como Oratório Festivo.

O termo “emboaba” era pejorativo, dirigido aos estrangeiros que tentaram controlar a região das minas de ouro, tardiamente. Na língua tupi, essa expressão era originalmente utilizada pelos indígenas referenciando a todo tipo de ave que tinha suas pernas cobertas de penas até os pés. Com o passar do tempo, os bandeirantes paulistas a reinterpretaram para se referir aos forasteiros que, calçados de botas, alcançavam a região interiorana atrás dos metais preciosos.

Após a Guerra dos Emboabas, na Matriz de Nossa Senhora de Nazareth foi sagrado o primeiro governador eleito pelo povo da história das Américas, Manuel Nunes Viana, personagem esta, que liderava os vencedores Emboabas. No século XIX o distrito também sofreu as consequências da decadência do ouro na região.

Em vista do conflito a Coroa Portuguesa determinou a criação da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro (1709).[2] O capitão Antônio de Albuquerque foi nomeado oficialmente governador e Mariana escolhida como capital.[3]

1720 - Felipe dos Santos e a sedição de Vila Rica[editar | editar código-fonte]

Em 1720, Felipe dos Santos e Pascoal Guimarães, mineradores de Vila Rica, foram os primeiros a enfrentarem a autoridade da Coroa. lideraram uma revolta contra a instalação das Casas de Fundição e consequente recolhimento pela Coroa de um quinto de todo o ouro extraído. Revolta conhecida por Sedição de Vila Rica, obtinha a simpatia de várias camadas da população. O episódio mais importante da revolta se deu na praça da matriz, em Cachoeira do Campo: a prisão de Felipe dos Santos Freire, enquanto insurgia o povo. Foi condenado à morte. Há controvérsias sobre sua execução, se enforcado e esquartejado, ou teve o corpo amarrado a cavalos, que saíram em disparada estraçalhando-o. Pascoal Guimarães foi condenado e teve sua propriedade incendiada. Os acontecimentos materializaram-se na autonomia administrativa da região das minas. A então Capitania de São Paulo e Minas de Ouro foi desmembrada em duas por D. João V, criando a Capitania de São Paulo e a Capitania de Minas Gerais, em 12 de setembro de 1720.

Construção do acervo histórico e artístico[editar | editar código-fonte]

Na primeira metade do século XVIII, uma poderosa aristocracia se consolidava no lugarejo, com influência e dinheiro o bastante para construir prédios suntuosos para a época. Aliás, mesmo hoje seriam considerados suntuosos. A pompa e luxo fizeram morada em Cachoeira do Campo. Não demorou para que o poder também a escolhesse como residência. A maior parte de seu acervo arquitetônico já não existe mais, como os antigos casarões coloniais da ladeira e da rua Sete de Setembro, o Palácio da Cachoeira, mesmo assim imponentes ruínas e construções remanescentes resistem ao tempo:

A Ponte do Palácio, datada do século XVIII, que dava acesso ao Palácio da Cachoeira, com 30 metros de comprimento e toda feita em pedra bruta, assentada em argamassa tendo o sangue de boi como aglomerante;

O Cruzeiro de Pedra na praça da Igreja matriz, construído em 1799, construído através do encaixe perfeito em peças de cantaria;

A Igreja de Nossa Senhora das Dores, construída em 1767, primeira no Brasil dedicada a esta invocação devocional;

A Igreja de Nossa Senhora das Mercês, construída em 1908;

A Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, com data provável de construção no primeiro quarto do século XVIII;

A Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, que substituiu uma antiga igreja ali erguida por volta de 1700, de decoração ao estilo Nacional Português, caracterizando a primeira fase do Barroco Mineiro. Foi a primeira igreja do país a receber investimentos do PAC das Cidades Históricas para o combate de cupins e insetos xilófagos que têm comprometido seus altares e douramentos.[4]

Chafariz de Dom Rodrigo, situado na serra de Ouro Preto, com regime constante de água até os dias atuais;

O Palácio da Cachoeira foi construído em 1773 por D. Rodrigo de Menezes e e ampliado em 1782 por D. Rodrigo José de Meneses[5]. Era onde residiam os governadores da Capitania das Minas Gerais. Em 1811, foi transformado em internato pelas Irmãs Salesianas e atualmente funciona no local o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. Segundo o historiador Augusto de Lima Júnior, o palácio era dotado de todo conforto possível naquela época, incluindo-se lago artificial. O Palácio do Governo era em Vila Rica, mas os governadores preferiam, para residência, o Palácio da Cachoeira, evitando-se com isso o clima úmido e chuvoso de Vila Rica e o burburinho da mineração.

1775 - Regimento Regular de Cavalaria de Minas & Tiradentes & PMMG[editar | editar código-fonte]

Edifício principal do Colégio Dom Bosco, em Cachoeira do Campo.

Em 1775 foi construído no distrito de Cachoeira do Campo pelo governador provinciano Dom Antônio de Noronha, o quartel para abrigar o recém-formado Regimento Regular de Cavalaria de Minas, considerado a célula-máter da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Sua origem, portanto, data de 9 de junho do ano de 1775 no então chamado Quartel dos Dragões Del’Rey, onde lotava-se o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, exatamente no local onde se encontra atualmente o Colégio Dom Bosco (Centro Dom Bosco).

Em 1816, deu início as adaptações para fundação da Coudelaria Imperial de Cachoeira do Campo, o que se deu a 29 de julho de 1819, transformando o local no maior centro criador de cavalos de raça da província, partindo dali a gênese de algumas das raças mais apreciadas no Brasil e no exterior.

O Regimento de Cavalaria pago, tinha como missão guardar as minas de ouro descobertas na região de Vila Rica, (atual Ouro Preto) e Mariana.

Em 1834, o Regimento Regular de Cavalaria de Minas seguiu para o Rio de Janeiro, transformando-se no Primeiro Corpo de Cavalaria do Exército.

A Polícia Militar de Minas Gerais é a mais antiga entre as Polícias do Brasil e seu patrono é o alferes Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira.

1856 e 1864 - Bandas Musicais[editar | editar código-fonte]

Foi criada no distrito em 1856 a Banda Euterpe Cachoeirense e em 1864, a Sociedade Musical União Cachoeirense, atualmente Sociedade Musical União Social, sendo a segunda, formada por dissidentes da Banda Euterpe Cachoeirense, bandas que se encontram em atividade ininterrupta desde a fundação e que muito contribuem para o enriquecimento da cultura local. Estão entre as bandas musicais civis mais antigas de Minas Gerais.

1881 - Visita do Imperador[editar | editar código-fonte]

O Imperador Dom Pedro II esteve em Cachoeira do Campo, onde chegou em 2 de abril de 1881,[6] por ocasião de uma viagem pela Província de Minas. A comitiva imperial saiu do Rio de Janeiro no dia 26 de março, viajando de trem até Barbacena, de onde a viagem devia seguir a cavalo até Ouro Preto. Quando sua carruagem entrou no distrito pelo Tombadouro, houve intenso foguetório provocado pela multidão que se encontrava nas proximidades da praça da igreja matriz, cessando a pedido da Imperatriz D. Teresa Cristina, por estar assustando os cavalos. O Imperador foi recebido pelo Pe. Afonso, Coronel Ramos (Joaquim Fernandes Ramos) e outras autoridades locais. A comitiva imperial passou pela Matriz de Nossa Senhora de Nazareth, cujos altares o "agradaram muito", como ele próprio escreveu. Passou também pelo Palácio da Cachoeira e no imóvel onde se localiza o Colégio Dom Bosco, onde segundo consta, era intenção do Imperador transformar aquela propriedade numa escola agrícola.

Durante o almoço Dom Pedro II sentou-se em uma cadeira imponente que anos antes havia também sentado seu pai Dom Pedro I em sua passagem pelo distrito, fato que lhe foi relatado carinhosamente por Manoel Murta, companheiro de caçadas de D.Pedro I quando das suas visitas a Cachoeira do Campo. Esta cadeira, importantíssima para a história de Cachoeira, está guardada no Centro Dom Bosco.

Joaquim Fernandes Ramos (1847 - 1925): farmacêutico/clínico e agente do correio em Cachoeira do campo. Era coronel da Guarda nacional e também foi bedel no Colégio Dom Bosco.[7][8]

1907 - Ensino Fundamental[editar | editar código-fonte]

A primeira escola de ensino fundamental no distrito foi criada em 21 de outubro de 1907 sob o nome de Grupo Escolar, sendo então utilizado salas improvisadas, esparsas e outros locais inadequados. Em 1947, passou a se chamar Escola Estadual Pe. Afonso de Lemos, em homenagem ao pároco local Padre Afonso Henrique de Figueiredo Lemos. O local ocupado atualmente, uma área de 5.000 m2, foi doado pela Prefeitura de Ouro Preto em 1949, onde foi construído o prédio no qual a escola funciona até hoje. A partir de 1978, passa a funcionar a 5ª série. Em seguida, a 6ª e 7ª séries. Já em 1981, passa a funcionar a 8ª série. O Decreto Municipal nº 24.384, de 22Mar1985, regula a criação do antigo segundo grau na escola.

Referências

  1. «Ouro Preto: Histórico». Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Consultado em 8 de março de 2017 
  2. Ellis (1974), p. 152
  3. Ellis (1974), p. 154
  4. WERNECK, Gustavo (14 de janeiro de 2010). Ouro Preto tem exemplos de manutenção. Caderno Gerais. Jornal Estado de Minas
  5. Ruínas do Palácio dos Governadores, por Tino Ansaloni, Jornal Voz Ativa (consulta em 24.4.2024
  6. Personalidades de Cachoeira do Campo
  7. RAMOS, Lúcio Fernandes (1977). Cachoeira do Campo: a filha pobre do Ouro Preto. [S.l.]: Editora São Vicente. pp. 79–83 
  8. Memórias dos cinco lustros das Escolas Dom Bosco. NIterói: Escola Typographia Salesiana. 1921 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

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