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User:Belchior Domingos Eduardo

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1.1. Localização Geográfica da Cidade de Nampula

Nampula é a cidade capital da província do mesmo nome, em Moçambique é conhecida como a capital do norte. Esta localizada no interior da província e a sua população é, de acordo com o senso de 2007, de 471.717 habitantes. De acordo com o INE (2009) “a cidade de Nampula è a terceira maior cidade de Moçambique (mais pequena do que Maputo e Matola mas maior do que Beira) ”. Corresponde ao maior centro urbano da província do mesmo nome e è considerada comummente a capital do norte. LOPES e tal. (1995:24) refere que “a cidade de Nampula encontra-se rodeada inteiramente pelo distrito de Nampula do qual ocupa uma posição sensivelmente central”. Tem como limites geográficos os seguintes: • Norte: o rio Monapo que o separa do posto administrativo de Rapale; • Oeste: os postos administrativos de Rapale; • Sul e este: posto administrativo de Anchilo. Uma cidade considerada capital do norte pela sua estratégica localização que abarca nos seus extremos o corredor de desenvolvimento do norte, os caminhos-de-ferro de Moçambique a terminal dos transportes de Nacala que engloba um porto do mesmo nome.

Fonte: CMI Relatório 1.2 Historial A Actual cidade de Nampula, muito antes da chegada dos portugueses no território já era habitada por pequenos grupos organizados sem uma estrutura coesa. MARTINEZ (2009:20) refere que após a chegada dos árabes na costa houve um cruzamento passando o povo a se organizar em regulados e chefaturas. A sua historia é influenciada também pelo militarismo português na região com a sua fixação na região antes conhecida por macuana, “região localizada a 500 km da Costa” (DEPARTAMENTO DE HISTORIA DA UEM), montando-se uma regedoria portuguesa como afirma TUOMINEN e tal (2009:18) que , A cidade traça seu historial desde a primeira chegada dos portugueses em 1896; o estabelecimento de um campo militar em terreno do regulo Wampula em 1997; e da chegada da linha de caminho de ferro desde a costa ate ao local em 1930, que levou ao estabelecimento de uma vila e, a partir de 1956 da cidade de Nampula. Como refere IVALA (2000:25) "a presença portuguesa no território, onde hoje é Moçambique teve inicio em 1498 aquando da passagem do navegador Vasco da gama para a índia, ocupando assim toda parte do rio Zambeze e interior". O nome da cidade deriva do nome do seu líder local M'phula ou Wanphula. A cidade tem origem militar, uma característica que ate hoje se mantêm. Uma expedição militar portuguesa chefiada pelo major Neutel de Abreu acampou as terras de Wanphula a 7 de Fevereiro de 1907, o que levou a construção do comando militar de Macuana. A povoação foi criada a 6 de Dezembro de 1919 tendo-se tornado a sede da circunscrição civil de Macuana em Junho de 1921. Nampula torna-se quartel-general do exército português durante a guerra colonial, o qual, com a independência nacional passou a academia militar Samora Machel. MICOA (1996:7) afirma que "em 1935 transformou-se na capital do distrito de Niassa que, na altura cobria as actuais províncias do Niassa, Cabo delgado e Nampula passando assim a ser o centro de administração, comercio e comunicação da região" A chegada do caminho-de-ferro, a partir do Lumbo contribuiu para o desenvolvimento da povoação que foi elevada a vila em 19 de Dezembro de 1934 e a cidade em 22 de Agosto de 1956.


1.3 Divisão administrativa da cidade de Nampula

O município está completamente rodeado (mas administrativamente separado) pelo distrito de Nampula. Encontra-se dividida em 6 postos administrativos com 19 bairros (vide tabela abaixo). A cidade de Nampula é um município e, administrativamente, equivale a um distrito por esta razão funciona um governo com estatuto distrital. Desde a independência nacional Nampula teve vários administradores, tendo os dois últimos já sido eleitos presidentes do Conselho Municipal, estrutura autárquica instituída em 1998. De acordo com os dados do INE (2009), o posto administrativo Urbano mais populoso é o de Muhala com 152.879 habitantes, o segundo é o de Muatala com cerca de 109.005 Habitantes, a seguir é o de Napipine com 86.301, o quarto posto administrativo mais populoso é o de Namicopo com 60.705, o quinto é o de Natikiri com 52.278 e o ultimo è o posto administrativo Urbano central com 17.603 habitantes.

Tabela 1: População e postos administrativos Posto administrativo População Bairros Homens Mulheres Central 9.433 8.170 Bombeiros, 25 de Setembro, 1° de Maio, Limoeiros, Liberdade, Militar Muatala 55.164 53.841 Muatala, Mutawanha Muhala 77.056 75.823 Muhala, Namutequeliwa, Muahivire Namicopo 30.768 29.937 Namicopo, Mutava-rex Napipine 44.094 42.207 Napipine, Carrupeia Natikiri 26.634 25.644 Natikire, Murapaniwa, Marere Fonte: adaptado pelo autor 1.5 Actividades Económicas A cidade de Nampula economicamente é a mais rica o que lhe confere o carácter da capital do norte. São desenvolvidas actividades económicas viradas por um lado para o consumo e sustento familiar e por outro para a exportação e importação. O desenvolvimento dessas actividades, principalmente as de venda e pronto consumo são efectuadas por crianças pelo fraco rendimento económico em que estes se deparam no seu seio familiar necessitando assim de dinheiro para alimentação e sustento escolar. CHEREUA (1996:37) a semelhança do que se passa noutros países do III Mundo as cidades moçambicanas se desenvolveram a partir de infra-estruturas orientadas para a prestação de serviços de importação de matérias – primas, os vínculos que estabelecem com o mundo rural manifesta-se através de relações de trocas desiguais em virtude de serem zonas rurais que mais benefícios trazem as cidades.

A cidade de Nampula está sujeita a tradução histórico-económico das cidades do III Mundo cujo desenvolvimento não emerge do processo de industrialização como acontece com os países desenvolvidos mas sim do crescimento populacional e consequente expansão da urbanização.
Nesta vertente, as principais actividades económicas da cidade de Nampula são: Comércio, Actividades industriais, Transportes e comunicações, produção agro-pecuária, nas zonas verdes; Actividades turísticas e de recreação; Instituições financeiras (Bancos, Casas de câmbios e seguros), Serviço de administrações públicas e Instituições de prestação de serviços.

Comércio formal – refere-se às actividades de venda, compra e troca de produtos legalmente reconhecidas pelas autoridades municipais mediante a atribuição de uma licença que autoriza a realização da actividade comercial. Neste grupo inclui as lojas, armazéns, barracas, entre outras;

Comércio informal - refere-se as activadas de venda, compra e troca ilegais de produtos, esta não é reconhecida pelas autoridades municipais. No caso de vendedores de rua, barracas sem licença, entre outras.

Actividade industrial – refere-se as actividades que se realizam nas diferentes fábricas e sectores similares, como por exemplo a fábrica de refrigerantes, de cervejas de bolachas entre outras.

Transporte - a actividade de transportes compreende os transportes rodoviários, ferroviários e aéreos. Neste caso, existem vários operadores privados de transportes rodoviários de passageiro e carga de escala local, distrital e interprovincial, cujos parques localizam-se na padaria Nampula Bairro de Namutequeliua para zona norte, Faina no posto de Natikire para zona sul e Muhala expansão na paragem de maningue nice. Transporte ferroviário -em relação ao transporte ferroviário nota-se que até ao ano 2000 este sector era gerido pelos CFM. Actualmente, o transporte ferroviário esta sob gestão da empresa CDN, que integra duas linhas férreas e um ramal que totalizam 920 km. Alinha de Nacala – Lichinga, a qual é usada nas zonas de Nacala, Monapo, Meconta, Rapale, Ribaúe, Iapala, Malema, Lùrio, Cuamba, entre lagos e Lichinga.

Transporte aéreo- é feito através da ligação diária entre as cidades de Nampula-Maputo e outras capitais provinciais, assim como na escala internacional. Este sector está sob gestão da única operadora a LAM (Linhas Aéreas de Moçambique) enquanto a AIR CORRIDOR actualmente encontra-se inoperante.

Comunicações -o sistema de comunicações, nesta cidade é desenvolvido sob influência da TDM. Sob comando da TDM, em Nampula existem o sistema de telefonia fixa, três redes de telefonia móvel, a destacar: a MCL, a VODACOM e a mais recente, a MOVITEL. Existem também as redes do fax, da Internet e do correio electrónico. Do mesmo modo, existe a comunicação via rádio com várias estações emissoras espalhadas ao nível da cidade, tais como: a Rádio Moçambique EP, Rádio Encontro, Rádio Vida, a MIRAMAR RTP. Porém, a RM merece um destaque especial porque as suas emissões cobrem toda a província e uma parte das províncias vizinhas. A televisão por sua vez transmitido pela TVM, MIRAMAR e pela STV para o município, e em alguns distritos da província;

Produção agro-pecuária nas zonas verdes - refere-se actividade realizada pelos moradores no cultivo de diversas culturas alimentares principalmente nas zonas verdes, como a couve, a cebola, o amendoim, a mandioca o milho entre outros.

Actividade turística – refere-se as actividades realizadas nos hotéis, restaurantes, nas pensões e nos bares. Por exemplo hotel Lúrio, Milénio, pensão Parque, Central e outros.

Recreações Instituições financeiras (Bancos, Casas de câmbios e seguros); Serviço de administrações públicas; Instituição de prestação de serviço.


1.6 Religião na cidade de Nampula

O mosaico cultural da cidade de Nampula é um factor determinante na religiosidade da população. De acordo com o INE (1997) a cidade de Nampula tem as seguintes religiões: • Católica com 23,8 % da população; • Islâmica 17,8% da população; • Crista indeterminada 2,7% da população e; • Sião zione 1,3%da população; As religiões impostas por outros povos tem sido prazeirosamente recebidas mas tal facto não faz com que as praticas religiosas tradicionais como rituais de invocação aos espíritos antepassados e crenças nos espíritos em geral não sejam praticada em simultâneo com a alguma população principalmente as que professam fé católica e islâmica. ARAÚJO (2005:209) refere que "a maior capela é a Sé catedral situada na avenida Eduardo Mondlane recebendo crentes de toda arquidiocese" As pessoas em Nampula são fundamentalmente religiosas, no sentido de que dificilmente alguém questiona os dogmas básicos da sua religião, e uma grande proporção da população pratica a sua fé indo regularmente às mesquitas ou igrejas. De facto, foram muitas vezes feitas referências à religião quando da discussão de questões de relações de género com pessoas na cidade de Nampula. MARTINEZ (2009:199) refere que “na concepção macua existe o ser supremo único, MULUKO (Deus), não aparecendo nunca a ideia de vários deuses. Nenhum dos espíritos é igual ao ser supremo, nem no ser, nem no poder, nem na actuação”. É de salientar que a presença na cidade de Nampula de muitos grupos populacionais não torna-se como factor de destruição de valores culturais e nem religiosos dos macuas residentes nesta urbe nem consegue-se romper com os valores culturais e religiões da maioria populacional macua.

1.7 Cultura e praticas culturais na cidade de Nampula

A construção cultural da população na cidade de Nampula é inicialmente inserida nas pessoas através das práticas culturais Macuas (como ritos de iniciação e cultos dos espíritos dos antepassados) e da religião (as leis da Sharia no caso dos Muçulmanos e a Bíblia e suas interpretações no caso do Cristianismo). A língua, como prática cultural, é importante não apenas para ser capaz de comunicar e ter acesso à informação, mas também para entendimento mais profundo do mundo em mudança onde as pessoas vivem. A língua comum fortalece também a coesão social de um grupo populacional e funciona como um veículo importante de valores e normas culturais. A importância da religião nas comunidades que estudámos não significa que as práticas espirituais tradicionais se tenham tornado menos importantes. Nesta linha 70% dos entrevistados praticam regularmente cultos dos antepassados (‘Epapa’, ‘Mukutho’, ‘Swadaka’ e ‘Kupatha’) independentemente das religiões impostas. A proporção da população que pratica cultos ancestrais é menor, resultante da mudança de agregados familiares das zonas costeiras para a cidade e nela se fixaram e continuam a praticá-los. A sua essência é relacionar-se com os ancestrais e os seus espíritos para assegurar uma vida boa e resolver os problemas familiares e comunitários, com base numa percepção de interligações estreitas entre o passado e o presente. A complexidade das relações homem-mulher é bem exemplificada pela contínua importância das mulheres (apyamwene n’loko / apyamwne nihimo) nestes cultos. Tradicionalmente o tipo de prática cultural mais directamente relacionado com a religião e a percepção cultural de homens e mulheres era os ritos de iniciação. Na tradição histórica Macua, as mulheres eram ensinadas a ter um comportamento de esposa, como parte das suas cerimónias de iniciação. Estas cerimónias tinham lugar quando as raparigas tinham à volta de dez anos estão sob a tutela de mulheres mais velhas que as ensinavam sobre higiene, comportamento sexual e as quais deviam ser os seus deveres para com os seus futuros maridos. Para os rapazes, os ritos de iniciação eram orientados para lhes ensinar bravura e responsabilidade, nestas cerimónias tanto as mulheres como os homens são ensinados as práticas tradicionais na invocação dos espíritos (SHELDON 2002). As práticas culturais como a feitiçaria e bruxaria parecem ter o efeito de excluir as mulheres que se comportam fora das normas sócio-culturais aceites. Dos três idosos entrevistados, perguntados de quais seriam as possíveis linhagens ou clãs correspondentes nomearam as seguintes e que por sua vez correspondem a um antepassado linhageiros foram: • Amulima; • Amiratse; • Alapone e; • Alacusse; É de destacar que estes clãs formam o grupo populacional macua residentes quer na cidade de Nampula quer por toda província e a prática do culto dos antepassados é feita obedecendo o antepassado mais antigo de cada linhagem de acordo com o esquema de invocação aos antepassados.


1.7.1 Esquema de invocação aos antepassados na sociedade macua de acordo com MARTINEZ (2009:209).

DEUS MULUKU



GRUPO DOS ANTEPASSADOS MAKHOLO

- Fundadores de Linhagem - fundadores de aldeias - Régulos – chefes de aldeias - Chefe de família e chefes de linhagem - Anciãos e outras pessoas importantes

1.8 Sociedade na cidade de Nampula

A cidade de Nampula é uma sociedade multicultural onde encontramos povos de todos cantos do mundo falando línguas diversas e professando religiões muito diferentes. Na cidade de Nampula, a proporção é mais alta nos agregados familiares chefiados por mulheres do que nos chefiados por homens. Como definido pelo INE, há na cidade de Nampula uma proporção relativamente alta e em crescimento de agregados familiares chefiados por mulheres, e estes agregados familiares são geralmente mais pobres e despojados em termos de emprego, rendimento, habitação e outros bens materiais do que os agregados familiares chefiados por homens.

Na cidade de Nampula, a tradição e religião parecem ter menos domínio sobre as pessoas, enquanto o urbanismo tem implicações conflituosas para os homens: para os que estão em posição de explorar as oportunidades económicas urbanas, a cidade criou formas alternativas de manter as suas posições como maridos e pais. Para os que não estão nessa posição, a base para defender a sua posição como chefes de agregados familiares e como homens está a desaparecer. TUOMINEN e tal (2009:27) referem que "o sistema matrilinear Macua tradicional de parentesco e descendência, onde as mulheres têm uma posição relativamente forte e independente, está a mudar". A religião particularmente o Islão, pregam um sistema de valores em que os homens são superiores em praticamente todas as áreas da vida e no domínio espiritual referindo-se por vezes que não existem antepassados mulheres – embora ainda com a obrigação de cuidar da sua família. O conhecimento da fé é instilado nas crianças desde tenra idade através de leituras do Corão (ou Kitabu em Macua), com a maioria frequentando uma das muitas escolas Muçulmanas (madrassas) nas comunidades. Nos últimos anos tem se assistido na cidade de Nampula um crescente número de estrangeiros oriundos quer da África (Mali, Somália, Nigéria e outros) e da Ásia (Japão, China, Vietname, Coreia e outros). Esses diferentes povos oriundos dessas partes mencionadas trazem consigo praticam culturais tornando o mosaico sócio-cultural mais estreito em relação aos anos anteriores.

NUNES, Rogério. Macuas: filhos da montanha in além-mar, marco de 1999 PRATA, A. Pires. Dicionário macua-português, Lisboa, instituto de investigação 1990 SERRA, Carlos. História de Moçambique, Maputo. Universidade Eduardo Mondlane 2006 SHELDON, Katheen E. pounder of grain: a history of women, work and politics in Mozambique, Portsmounth: N.H: Heinemann 2002