Transporte ferroviário em Portugal

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A Gare do Oriente, em Lisboa, é a principal interface ferroviária em Portugal.
A construção da Ponte D. Maria, a maior obra de engenharia do caminho-de-ferro português no século XIX, permitiu a ligação ferroviária entre as cidades de Lisboa e Porto
Serviço Regional, na Linha da Beira Baixa junto ao Castelo de Almourol

O transporte ferroviário em Portugal é composto, essencialmente, pelas infraestruturas de via e apoio ao tráfego, cuja gestão está entregue à empresa Infraestruturas de Portugal, e pela exploração de passageiros e carga, efectuada, principalmente, pela operadora Comboios de Portugal, e por outras empresas, como a Medway, Fertagus e Takargo. A rede ferroviária nacional é composta por linhas e ramais (em exploração e não exploradas) com uma extensão total de 3.621,6 km. 70% da rede encontra-se em exploração, o que corresponde a uma extensão de 2.526 km, dos quais 1.916 km em via única e 610 km em via múltipla. A extensão de rede eletrificada 1.791,2 km, corresponde a 70,8% do total da rede em exploração.[1] Existem 3 ligações internacionais, com a rede ferroviária espanhola, em Vilar Formoso, Valença e Elvas.[2] Também existem vários sistemas ferroviários ligeiros, como o Metro do Porto[3], o Metro Sul do Tejo, os Eléctricos de Lisboa[4], do Porto[5] e de Sintra[6], o Transpraia na Costa de Caparica[7] e o Comboio da Praia do Barril no Algarve[8]. Em território nacional existem igualmente vários elevadores e caminhos de ferro funiculares, como o Elevador do Bom Jesus em Braga[9] ou o Elevador de Santa Justa em Lisboa.[4]

Linhas e ramais[editar | editar código-fonte]

Linhas e ramais Estado Ligação Região Extensão Eletrificado Inauguração
Linha do Alentejo Em serviço BarreiroFuncheira AM de Lisboa, Alentejo 217,6 km 41,5% 1857
Ramal de Alfarelos Em serviço AlfarelosBifurcação de Lares Centro 16,5 km 100% 1889
Linha do Algarve Em serviço LagoaVila Real de Santo António Algarve 139,5 km 28,1% 1889
Ramal de Aljustrel Encerrada Castro Verde-AlmodôvarAljustrel Alentejo 11,6 km 1929
Linha da Beira Alta Em serviço PampilhosaVilar Formoso (Fronteira) Centro 202 km 100% 1882
Linha da Beira Baixa Em serviço EntroncamentoGuarda Centro 240 km 100% 1891
Ramal de Braga Em serviço NineBraga Norte 15 km 100% 1875
Ramal de Cáceres Encerrada Torre das VargensMarvão (Fronteira) Alentejo 72,4 km 1879
Linha do Corgo Encerrada Chaves e Régua (Fronteira) Norte 96,1 km 1906
Linha de Cintura Em serviço Alcântara-TerraBraço de Prata AM de Lisboa 10,5 km 100% 1888
Linha do Dão Encerrada Santa Comba DãoViseu Centro 49,3 km 1890
Linha do Douro Em serviço ErmesindePocinho Norte 160 km 31,8% 1875
Linha de Évora Em serviço Casa BrancaÉvora Alentejo 139,5 km 18,7% 1863
Nova Linha de Évora Em construção ÉvoraElvas Alentejo 80 km 100% Em construção
Ramal de Famalicão Encerrada PortoVila Nova de Famalicão Norte 57,1 km 1875
Ramal da Figueira da Foz Encerrada Figueira da FozPampilhosa Centro 50,4 km 1882
Linha do Leste Em serviço AbrantesElvas Centro, Alentejo 146,2 km 0% 1863
Linha de Leixões Em serviço Porto de LeixõesContumil Norte 18,7 km 100% 1938
Ramal do Louriçal Em serviço LouriçalMarinha das Ondas Centro 8 km 100% 1993
Linha da Matinha Em serviço Lisboa-Santa ApolóniaSacavém AM de Lisboa 2,8 km 100%
Linha do Minho Em serviço PortoValença (Fronteira) Norte 134 km 100% 1882
Ramal de Monção Encerrada ValençaMonção Norte 16 km 1915
Ramal de Montemor Encerrada Torre da GadanhaMontemor-o-Novo Alentejo 12,8 km 1909
Ramal do Montijo Encerrada Pinhal NovoMontijo AM de Lisboa 10,6 km 1908
Ramal de Mora Encerrada ÉvoraMora Alentejo 60 km 1907
Ramal de Moura Encerrada MouraBeja Alentejo 60 km 1902
Linha do Norte Em serviço LisboaPorto AM de Lisboa, Alentejo, Centro, Norte 336 km 100% 1853
Ramal de Neves Corvo Em serviço OuriqueMina de Neves-Corvo Alentejo 30,8 km 0% 1980
Linha do Oeste Em serviço Agualva-CacémFigueira da Foz AM de Lisboa, Centro 215,1 km 12,1% 1887
Ramal de Reguengos Encerrada ÉvoraReguengos de Monsaraz Alentejo 40,6 km 1927
Linha do Sabor Encerrada PocinhoMiranda do Douro Norte 105 km 1911
Linha de Sines Em serviço Porto de SinesErmidas-Sado Alentejo 50,7 km 100% 1927
Linha de Sintra Em serviço LisboaSintra AM de Lisboa 27,2 km 100% 1887
Linha do Tâmega Encerrada Arco de BaúlheAmarante Norte 51,4 km 1909
Ramal de Tomar Em serviço LamarosaTomar Centro 14,8 km 100% 1928
Linha do Tua Encerrada TuaBragança Norte 134 km 1887
Linha de Vendas Novas Em serviço SetilVendas Novas Alentejo 69,6 km 100% 1904
Ramal de Vila Viçosa Encerrada Vila ViçosaEstremoz Alentejo 16 km 1905
Linha do Vouga Em serviço AveiroEspinho Centro, Norte 61 km 0% 1911

História[editar | editar código-fonte]

O primeiro troço, entre Lisboa e o Carregado, foi inaugurado em 28 de outubro de 1856[10], tendo a rede crescido constantemente até à década de 1890, quando o ritmo começou a diminuir.[11] Ambas as Guerras Mundiais e a Grande Depressão, junto com a expansão do transporte rodoviário, tiveram efeitos nefastos nos caminhos de ferro em Portugal, tendo apenas sido construídos alguns troços, e as empresas acumulado grandes prejuízos.[12][13][14] A extensão máxima da rede foi atingida com a inauguração do troço até Estação Ferroviária de Arco de Baúlhe, na Linha do Tâmega, em dezembro de 1949.[15] Após a Segunda Guerra Mundial, os transportes aéreo e rodoviário continuaram a ganhar terreno perante os caminhos de ferro, pelo que se iniciou um processo de modernização das principais ligações, como a Linha do Norte.[16] No entanto, os investimentos na rede complementar foram muito mais reduzidos[17], o que culminou com o encerramento de grandes porções da rede a partir dos finais da década de 1980.[16]

Na década de 1990, verificou-se um esforço de modernização, aonde foram inauguradas importantes infra-estruturas, destacando-se a Ponte de São João, em 1991[16], e a Gare do Oriente, em 1998[18], e introduzidas novas séries de material circulante, como as locomotivas da Série 5600, em 1993[19][20], e as automotoras do Alfa Pendular, em 1999.[21][22] Também nesta década, efectuou-se uma profunda reorganização nos caminhos de ferro, com a criação da Rede Ferroviária Nacional, que passou a assegurar a gestão das infraestruturas ferroviárias, limitando as actividades da operadora Caminhos de Ferro Portugueses à exploração dos serviços.[23]

Caracterização[editar | editar código-fonte]

Serviço Alfa Pendular, na Estação Ferroviária de Lisboa-Santa Apolónia.

Via, sinalização e segurança[editar | editar código-fonte]

A rede ferroviária portuguesa apresentava, em 2017, cerca de 2 562 Km em exploração, dos quais 1 633,7 estavam electrificados.[24] O número de estações era superior a 500.[24] Grande parte da rede estava electrificada, utilizando tensão de 25 Kv/50 Hz, excepto pela Linha de Cascais, que usava tensão continua de 1500 V.[2] A maior parte da rede em funcionamento era de via larga, na bitola ibérica, sendo a Linha do Vouga e a Linha do Tua de bitola métrica.[2]

A rede estava dividida em três zonas: o Comando Ferroviário Norte correspondia a todas as linhas a norte da Pampilhosa, enquanto que o Comando Ferroviário Centro abrangia todos os lanços de Pampilhosa até Vendas Novas e Lisboa, excepto a Linha do Sul (com princípio em Campolide).[2] O Comando Ferroviário Sul englobava todas as linhas a Sul de Lisboa, incluindo a Linha do Sul.[2]

Comboio internacional atravessando a Ponte de Várzeas, na Linha da Beira Alta, projectada pela Casa Eiffel

Em termos de sistemas de exploração, o Regime de Cantonamento Automático Puro (RCAP) era utilizado no Ramal de Braga, entre Ermesinde e Caíde na Linha do Douro, Nine e São Bento da Linha do Minho, toda a Linha do Norte, Ramal da Lousã, toda a Linha de Cintura de Lisboa com as suas duas concordâncias, toda a Linha de Sintra, lanço entre Cacém e Meleças da Linha do Oeste, toda a Linha de Cascais, o lanço de Pampilhosa a Luso na Linha da Beira Alta, a Linha do Sul de Campolide até Vale da Rosa e de Somincor a Grândola, Linha do Alentejo desde o Barreiro até Poceirão mais a Concordância do Poceirão, o lanço entre Quinta Grande e Salgueirinha da Linha de Vendas Novas.[2]

Por seu turno, o Regime de Cantonamento Automático com Sinais Avançados (RCASA) foi instalado no lanço entre Lordelo e Guimarães da Linha de Guimarães, em várias partes das Linhas do Sul e da Beira Alta, de Poceirão a Bombel e de Vendas Novas a Casa Branca na Linha do Alentejo, de Casa Branca a Monte das Flores na Linha de Évora.[2] O Regime de Cantonamento Interpostos (RCI) vigorava nos lanços restantes das linhas de Guimarães, Vendas Novas, Sul, Évora e da Beira Alta, entre o Entroncamento e Covilhã na Linha da Beira Baixa, parte do Ramal de Alfarelos, e na totalidade das linhas de Leixões, Sines, Algarve e nos ramais de Tomar e do Pego.[2] Os lanços restantes das linhas do Minho, Douro, Beira Baixa, Alentejo, e Oeste, mais a totalidade da Linha do Leste e uma pequena parte do Ramal da Figueira da Foz utilizavam o Regime de Cantonamento Telefónico (RCT).[2] Na rede ferroviária do Vouga, o tipo de cantonamento era o Regime Informatizado Simplificado de Exploração (SISE).[2]

A Estação Ferroviária de Vilar Formoso é a principal fronteira ferroviária de Portugal

Existiam três ligações internacionais por caminho de ferro, uma em Valença, na Linha do Minho, outra em Vilar Formoso, na Linha da Beira Alta, e uma terceira em Estação Ferroviária de Elvas, na Linha do Leste.[2] A principal é a de Vilar Formoso, fazendo da Linha da Beira Alta a artéria ferroviária mais importante para o tráfego internacional.[25] O corredor de maior importância em território nacional é o Eixo Atlântico, de Braga a Faro, que serve como uma grande espinha dorsal do sistema ferroviário, unindo a maior parte das outras linhas e permitindo desta forma a articulação dos comboios de passageiros e mercadorias, e ao mesmo tempo concentrando por si só grande parte do tráfego nacional, devido ao facto de ligar as principais cidades do país.[26] Os principais comboios de passageiros em Portugal, o Alfa Pendular e o Intercidades, utilizam o Eixo Atlântico[3] No âmbito deste eixo, a Linha do Norte apresenta um papel de relevo, devido em grande parte ao facto de ter a única travessia sobre o Rio Douro, pela Ponte de São João.[26]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Rede Ferroviária | Infraestruturas de Portugal». www.infraestruturasdeportugal.pt. Consultado em 19 de abril de 2022 
  2. a b c d e f g h i j k «Directório da Rede 2018» (PDF). 9 de Dezembro de 2016. Consultado em 5 de Novembro de 2017 
  3. a b REIS et al, 2006:202
  4. a b SARAIVA e GUERRA, 1998:109
  5. ANTÓNIO et al, 1983:54-55
  6. VIEIRA, 1997:182-183
  7. VIEIRA, 1997:213
  8. HURTADO, 2003:154
  9. CAPELA e NUNES, 2010:58
  10. REIS et al, 2006:16
  11. LAINS et al, 2005:165
  12. TAVARES e ESTEVES, 2000:107
  13. REIS et al, 2006:63
  14. MARTINS et al, 1996:57
  15. REIS et al, 2006:99
  16. a b c REIS et al, 2006:150
  17. REIS et al, 2006:66
  18. TAVARES e ESTEVES, 2000:114
  19. «Série: 5600 (5601-5630)». CP - Comboios de Portugal. Consultado em 5 de Novembro de 2017 
  20. «252 y 5600: Automotoras de Alta Velocidad». Maquetren (em espanhol). 2 (18). Madrid: Resistor, S. A. 1993. p. 20, 40 
  21. «Série: 4000 (4001-4010 e 4051-4060)». CP - Comboios de Portugal. Consultado em 5 de Novembro de 2017 
  22. CONCEIÇÃO, Marcos (Abril de 2001). «Trenes Rápidos Lisboa/Oporto: Nuevos Alfa Pendular». Maquetren (em espanhol). 11 (97). Madrid: Revistas Profesionales. p. 50-51 
  23. REIS et al, 2006:151
  24. a b «Rede Ferroviária». Infraestruturas de Portugal. Consultado em 5 de Novembro de 2017 
  25. REIS et al, 2006:225
  26. a b MARTINS et al, 1996:206-207

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • ANTÓNIO, Arminda; MOTA, António; CARVALHO, Adriano (1983). O Sector Empresarial do Estado em Portugal e nos Países da C.E.E. Lisboa: Imprensa Nacional / Casa da Moeda e Centro de Estudo de Economia Pública e Social. 471 páginas 
  • CAPELA, José Viriato; NUNES, Henrique Barreto (2010). Roteiros Republicanos. Col: Roteiros Republicanos. Braga e Matosinhos: Quidnovi - Edição e Conteúdos, S. A. e Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República. 128 páginas. ISBN 978-989-554-721-0 
  • HURTADO, Iñigo (2003) [2001]. As Melhores Prais de Portugal 4.ª ed. Lisboa: Publicações Dom Quixote e Editorial Geoplanetea, S. A. 167 páginas. ISBN 972-20-1769-1 
  • LAINS, Pedro; SILVA, Álvaro Ferreira da (2005). História Económica de Portugal 1700-2000. O Século XIX. Volume 2 de 3 2.ª ed. Lisboa: ICS - Imprensa de Ciências Sociais. 491 páginas. ISBN 972-671-139-8 
  • MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel de; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado: O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. [S.l.]: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas 
  • REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X 
  • SARAIVA, José Hermano; GUERRA, Maria (1998). Diário da História de Portugal. Volume 3 de 3. Lisboa: Difusão Cultural. 208 páginas. ISBN 972-709-060-5 
  • TAVARES, João; ESTEVES, Joaquim (2000). 100 Obras de Arquitectura Civil no Século XX: Portugal 2.ª ed. Lisboa: Ordem dos Engenheiros. 286 páginas. ISBN 972-97231-7-6 
  • VIEIRA, Alice (1997). Praias de Portugal. Lisboa: Editora Caminho, S. A. 317 páginas. ISBN 972-21-1146-9 

Leitura recomendada[editar | editar código-fonte]

  • LOPES, Mário (2015). O imperativo da bitola europeia. Coimbra: Riscos Sociedade Editora. 151 páginas 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]